sexta-feira, 27 de maio de 2022

Dia Internacional dos Museus 2022

 https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2022/14185-politica-museologica.html 

Vivemos tempos extremados.Pandemia, guerra na Ucrânia, sérias crises políticas, Fake News e o longo tempo em isolamento.

Escrevo com o ânimo afetado por essa realidade e não poderia ser diferente para nós trabalhadores de museus.

A memória, a história e o conhecimento são o nosso objeto de trabalho.

Recuperamos as ações humanas passadas e presentes e as preservamos para que?

Para deleite e prazer? Sim. Também. Mas não é só isso.

Os Museus são instituições públicas e, portanto nosso trabalho tem como objetivo final a sociedade.

Os Museus e Centros de Memória são espaços privilegiados para o conhecimento e reflexão sobre as manifestações humanas e sociais.

Educativo, o objetivo do trabalho dos Museus é sensibilizar, propiciar e estimular o senso crítico.

Trabalhamos todos os campos do conhecimento. Desde os contextos da história e cultura da humanidade até as mais recentes conquistas da ciência e da tecnologia.

Trabalhamos com instrumentos extremamente sensíveis. São como os instrumentos musicais que emocionam, embalam, chocam, assustam, enfim, provocam.

Por tudo isso nosso trabalho exige extrema responsabilidade e ética. E para isso temos como documento a ser jurado e cumprido o nosso código de ética profissional do ICOM. Assim, os museus através de nós, se revestem de valores éticos.

São responsabilidades do museólogo a defesa do respeito à vida, à pluralidade biológica e cultural e à igualdade de direitos em todas as sociedades.

Escrevi um artigo há muitos anos para o jornal Folha de São Paulo que se intitulava “Museus: Instrumentos de alienação ou conscientização”.

Seriam apenas os museus de História instrumentos de conscientização?

Observemos as letras de músicas como Bella Ciao, Grândola VilaMorena, obras de arte como Guernica, as obras de Portinari e Bernini. Podemos então afirmar que sim. As artes visuais também têm poder revolucionário.

Ilustra essa minha afirmação algumas exposições que estão em cartaz, como: “Contra Memória”, de curadoria de Jaime Lauriano, Lilia Moritz Schwarcz e Pedro Meira Monteiro, no Teatro Municipal - https://catracalivre.com.br/agenda/exposicao-contramemoria-theatro-municipal-sp/ - ou as exposições do Memorial da Resistência de São Paulo ou ainda as exposições do Museu da Cidade https://www.museudacidade.prefeitura.sp.gov.br/exposicao-memoria-da-resistencia/ .

Vivemos hoje no Brasil uma política intencional contra as manifestações e instituições culturais. Corte de verbas e de financiamentos para manutenção de museus resultaram no incêndio do Museu Nacional e no desespero dos funcionários da Cinemateca.

Esses tempos de politicas de destruição a olhos vistos devem e serão musealizados como denúncia. Assim como todas as mazelas sofridas pela sociedade.

“Lembrar para que não mais aconteça”.

Várias ações nesse sentido têm sido levadas a cabo no Brasil como é o caso da musealização da escravidão ou da destruição da natureza.

Não apenas os tesouros materiais construídos pelos poderosos como também os tesouros culturais dos povos historicamente excluídos como os museus de favelas, dos índios, das periferias e das quebradas.

No mundo, temos o Museu do Holocausto ou Shoah, Memoriais e monumentos aos mortos em guerras.

No Brasil, a história do período da ditadura militar ainda se encontra desconhecido pela maioria da população.

Sou da segunda turma de museólogos formados em São Paulo. Éramos ativistas culturais. Participamos do movimento das Diretas Já pela volta da democracia vestindo camisetas da ASSPAM – Associação Paulista de Museólogos. Fizemos roda humana de mãos dadas em volta do Parque do Ibirapuera, da Igreja da Penha, da casa Modernista do arquiteto Gregori Warchavchik. Participamos ativamente de criação de leis de tombamento e representação em Conselhos junto aos órgãos oficiais de Patrimônio.
 

Vejo com muita alegria uma nova geração de museólogos e trabalhadores de museus trabalhando e disseminando as múltiplas capacidades e possibilidades dos museus.

Vamos além do enriquecimento geral do conhecimento para a formação da consciência política e social dos cidadãos e na evolução da humanidade para um mundo melhor.

Mais do que nunca a sociedade precisa da luz dos museus.

quinta-feira, 23 de maio de 2019

2019 – Um ano triste para os museus no Brasil


   
A atual situação política do Brasil tem tomado conta de minhas preocupações. Vivemos uma crise que impacta todas as relações sociais. Como museóloga militante, acompanho apreensiva, aos ataques que os museus tem sido vítimas.


Desde o início de minha carreira profissional tenho participado de forma ativa dos movimentos sociais da área da cultura. No tempo de estudante, nos anos 70, o país estava em plena ditadura militar iniciada com o golpe de 64.
Remeto-me inexoravelmente àqueles tempos.

Dada a pluralidade de seu objeto de estudo, as atividades dos museus são multidisciplinares. Sejam de arte ou de ciências, todos são lugares de estudo e de preservação da história e da memória social e coletiva.
A seleção de seus acervos reflete a história das mentalidades de segmentos da sociedade em cada época. Não há neutralidade na seleção desses objetos/testemunhos como também a historiografia não é neutra. A História e os museus não estão isentos de versões, conflitos de narrativas e de disputas de poder.  Por esse motivo o museu deve ser sobretudo um lugar de crítica histórica. 

Originariamente os museus eram produtos de poder da elite e dos “vitoriosos”.  Muito se caminhou no sentido da musealização da história de grupos sociais até então invisíveis.
No Brasil caminhamos muito pouco no sentido da libertação da mentalidade da chamada casa grande e senzala, do patrão e empregado. O capitalismo exacerbou o valor de consumismo, da competição e da propriedade privada. É assustador ver como se naturalizaram verdadeiras aberrações e preconceitos sociais.

Os museus são por definição instituições publicas de função social.
No século XXI os museus são instrumentos poderosos de defesa das liberdades individuais, respeito às diferenças e dos direitos humanos.
No século XXI a arte, a critica histórica, a filosofia e a política terão papel predominante nos museus.
O ICOM discute novos conceitos de museu e o tema para a Conferência Geral deste ano será - Os museus plataformas culturais: o futuro da tradição.

As crises são um terreno fértil para a criatividade. Dialeticamente estamos falando de revisão, reconhecimento, atualização e renovação. Novos valores, novos embates, novos arranjos. Novas seleções de acervo e de coleções. As novas mídias, as novas formas de registros de som, de imagens e de vídeos como as técnicas de realidade virtual facilitarão a leitura e interpretações da realidade.

terça-feira, 29 de maio de 2018




https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2018/4760-o-impacto-das-tecnologias-digitais-nos-acervos-museologicos.html


O impacto das tecnologias digitais nos acervos museológicos

                                                                                                     Ana Maria da Costa Leitão Vieira [i]

Debates sobre constituição, organização, gerenciamento e preservação de acervos em suportes analógicos, magnéticos e digitais, denominados inicialmente de cinematecas, videotecas, midiatecas ou acervos multimídia tem ocupado profissionais da área nas últimas duas décadas, está na ordem do dia dos encontros desses profissionais, nacionais e internacionais e continuará ocupando, seguindo a dinâmica de acelerada evolução das tecnologias.

A partir da década de 90, no Brasil, cresce a produção de documentos digitais: planilhas eletrônicas, sistemas de workflow, Gestão de Documentos - GED , bases de dados, etc.
O enfrentamento cotidiano destas questões tem desenvolvido práticas em ensaios e erros, que demandam tempo de observação,de uso, acessibilidade e durabilidade, bem como a constante atenção às novas tecnologias.

Políticas de aquisição e descarte de acervos digitais começam a se delinear e se institucionalizar.
A informação digital é mais sujeita à adulteração, vandalismo e acidentes que a analógica. Seus suportes são frágeis e perecíveis. Soma-se a isso o fato de que os dados de computador dependem de complexos sistemas de hardware e software de rápida obsolescência tornando-se uma ameaça constante de perda de acesso aos acervos.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Laudo técnico museológico para a defesa de Lula

       Os acervos presidenciais e a preservação da memória nacional
O Instituto Lula e o acervo presidencial do
                                  Presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Dos acervos Históricos Nacionais

Os acervos históricos nacionais compõem a memória da nação e se configuram como fontes primárias para a História de um povo.
São coleções públicas e privadas consideradas de interesse público e social, organizadas técnica e institucionalmente de modo a preservar sua integridade e unidade, ou seja, a proveniência de sua produção, o acesso público à pesquisa e a socialização do conhecimento.  
Significa que objetos\testemunhos da história nacional em qualquer suporte, de natureza arquivística, bibliográfica e museológica, produzidos sob as formas textual (manuscrita, datilografada ou impressa), eletromagnética, fotográfica, filmográfica, videográfica, cartográfica, sonora, iconográfica, de livros e periódicos, de obras de arte e de objetos tridimensionais são valorados como bens culturais enquanto parte do Patrimônio Histórico da nação.  
De outra parte significa também que embora individualmente o objeto/ testemunho tenha valor simbólico, estético e financeiro em si, ele alcança valor histórico, cultural e social quando e se contextualizado no conjunto ou fundo[1].

sexta-feira, 19 de maio de 2017

O conhecimento socializado nos museus favorece a democracia e a paz social.

https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2017/2841-oconhecimento-socializado-nos-museus-favorece-a-democracia-e-a-paz-social.html

                                                        

Começo meu artigo em comemoração ao Dia Internacional dos Museus de 2017 com imensas preocupações.
O Brasil vive uma grave crise política. A destituição de uma presidenta eleita ameaça as instituições democráticas. Embora tenha assumido o vice da chapa, assistimos a destruição do programa político eleito em 2014.
Tem sido difícil encontrar fatos a serem comemorados no âmbito dos museus.
O primeiro ato destruidor foi justamente a extinção do Ministério da Cultura. Embora a reação popular tenha conseguido revertê-lo, ficou evidente a inexistência de uma política cultural programática para a área.  Em um ano já foram trocados dois Ministros na Cultura. Contingenciamentos têm gerado demissões de funcionários levando a fechamento de museus.

Museus de Cidade - Um projeto em permanente construção



                                                                      
                                                                       Campinas, 18 de maio de 2017
          Museus de Cidade - Um projeto em permanente construção

Musealizar Cidades
                                                          Por quê?
                                                          Como?
                                                          Para quem?

Inicialmente vou contar um pouco da minha experiência.

Em 1984 assumi a diretoria da Divisão de Iconografia e Museus da SMC.
Qual a situação encontrada?

A Divisão administrava:
  • As casas-museus entre elas as casas bandeiristas como a Casa do Bandeirante, Sitio da Ressaca, Casa do Tatuapé, Casa do Sertanista, Sítio Morrinhos além da Casa do Grito e do Monumento à Independência, o Solar da Marquesa de Santos e o Beco do Pinto. Em 1954, por ocasião do quarto centenário da cidade de São Paulo, as casas bandeiristas haviam sido recuperadas e decoradas com mobiliário colonial mineiro dos séculos XVII, XVIII e XIX como camas de dossel, cozinha, salas de jantar e de visita completas, etc.

Com base em pesquisas em inventários, relatos, iconografia da época e trabalhos arqueológicos, pudemos verificar que aquela cenografia existente passou por 30 anos ao público, uma falsa realidade. Os inventários falavam em 3 colheres, 2 pratos de cerâmica, 3 redes, um pilão, banquinhos e moinhos. Os arqueólogos encontraram vestígios de fogueira no centro do cômodo principal concluindo que ali era o local de cozimento de alimentos e de refeições.
Desmontamos a cenografia e recolhemos o acervo de mobiliário.
Enfrentamos questionamentos e tivemos a oportunidade de estabelecer a verdade histórica.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Acumulando coisas

A propósito do artigo, postado por Ignez Mantovani no fb, escrevi essa reflexão. 

Ha algum tempo estou me desapegando de coisas. Não é fácil. Até por ser museóloga e ter visto tantas coisas reunidas em museus, "coisas" de valor histórico, cultural, afetivo e até monetário, já entendí que não é preciso ter. Existem "coisas" como as obras de arte de altíssimo valor. Impossível tê-las. Os museus e arquivos públicos existem para que as coisa de valor possam ser vividas, conhecidas, cuidadas e preservadas, mas principalmente socializadas. Até os museus e arquivos selecionam. O colecionismo e o consumismo são patologias do ter. Patologias pq são vicios e não vivências. Tenho uma casa grande e naturalmente acumulamos coisas. Até certo ponto juntamos e nos cercamos de coisas que são memórias, belezas e fazeres próprios. Nós temos o domínio das coisas. Depois as coisas começam a nos dominar. Temos que conservar, limpar, arranjar e o trabalho que elas dão extrapola a vivência, o conhecimento e a emoção que elas podem proporcionar. Muitas coisas estão há anos guardadas que foram até esquecidas que existem.


https://www.linkedin.com/pulse/assustadora-verdade-sobre-o-excesso-de-coisas-dentro-nossas-jung


quarta-feira, 6 de julho de 2016

  • 2009 – Agraciada com a Ordine Al Mérito della Repubblica Italiana, título de Cavalieri