segunda-feira, 23 de junho de 2014

Socializar é construir pontes no ar e nas mentes

Socializar é construir pontes no ar e nas mentes

artigo para Revista Museu
18 de maio de 2014


Não há neutralidade na ação museológica. Desde a coleta à socialização do acervo existem escolhas, seleção, interpretação e valoração do objeto e das coleções. Toma-se partido. Propõem-se uma idéia.
Waldisa Russio dizia já na década de 1980 que museu é o lugar onde se dá a relação direta entre homem e o objeto/testemunho.
Fonte primária. Ensino informal. É neste sentido que a experiência do conhecimento no museu difere da escola tradicional e do ensino formal.
Mais que experiência, o conhecimento no museu é aventura.
As melhores experiências de conhecimento foram as viagens que fiz. 
Sem mediação, as emoções eclodiram e me alcançaram como se eu fora ainda criança.
A relação da criança com o mundo é inocente. Essa inocência é a ausência de pré – conceitos.
As coisas, a realidade, os cheiros, as cores, os sons e as pessoas que conheci pelos lugares que passei, sem mediações, são as que me enriqueceram e me integram. Eu era o meio e o fim. Embora tivesse muita informação cultural, a entrega ao novo, à surpresa e à aventura da descoberta me colocaram em relação direta com as minhas emoções. Provocadas pelo conhecimento que adquiria, cada emoção me causava mais curiosidade, que mais me emocionavam, para o bem e para o mal. Revelavam a mim mesma.
A educação formal mediada leva à erudição. Acumulo de informação. Paulo Freire a chamava de educação bancária.
A experiência vivida, ao contrário, gera cultura. É conhecimento integrado ao ser e que nos modifica e enriquece. Riqueza que nada nem ninguém nos tira. Inesquecíveis porque memorizadas por todos os sentidos.
Das poucas visitas guiadas que fiz e de suas torrentes de informações, sejam em cidades ou museus, sou incapaz de lembrar. Inadequadas, eram como se alguém nos lesse um livro durante um concerto.  
Certa vez, em uma visita técnica ao Musée du Quai Branly em Paris, o gentil diretor como todo bom francês, gostava de longas conversas. Ao nos acompanhar a uma exposição (eu ansiosa por vê-la) falou tanto sobre o que nela se tratava que quase esvaziou a visita.
O objeto/testemunho em si é meio, mesmo que seja uma história, uma experiência ou a memória de outrem.
A mediação em museus será um facilitador na medida em que cria pontes. Não viadutos, esses como imagem da sobreposição ou redundância. Pontes entre o espectador e o objeto, entre culturas diversas, entre gerações, entre passado e presente. Pontes entre acervos, coleções e objetos distantes.

Muito cuidado com os serviços educativos e com as visitas guiadas. Sua única e adequada linguagem é a arte. Linguagem artística. Seu roteiro uma aventura, uma viagem.

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