quinta-feira, 14 de março de 2013

O Instituto Cultural Banco Santos


O Instituto Cultural Banco Santos – Uma coleção riquíssima e conhecida na integra apenas pelos técnicos que nela trabalharam.

Fui selecionada pelo querido Diretor Roberto Bertani para ocupar a função de Coordenadora de Museologia.
Edmar Cid Ferreira era um grande colecionador. Organizar seu acervo foi um privilégio. Um sonho de museóloga. Digo sempre que aprendi mundo e que meu trabalho foi uma pós graduação assalariada.
A coleção impunha meu desenvolvimento profissional. Era preciso dar conta de coleções de arqueologia, etnografia, artes plásticas, fotografias, artes decorativas, antiguidades clássicas, fósseis, enfim, O desafio.
Encontrei um “ajuntamento” de peças empilhadas em salas fechadas, outras decorando o Banco Santos e a residência, em agências e escritórios em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Nas dependências da Brasil Connects e escritórios em várias cidades mundo afora.


A catalogação
Eu havia criado em 1998 um sistema de catalogação de acervos, o Acervsys, para o acervo do Banco Sudameris e do Banco América do Sul. Foi o primeiro sistema de acervos museólógicos criado no Brasil a ser comercializado. Rodava em Intranet. Na época ainda não havia internet. Começamos então usá-lo no Instituto. Logo Dr. Edmar me chamou e com sua gentileza me comunicou que gostaria que seu acervo fosse catalogado em um sistema que rodasse na internet para que ele pudesse consultá-lo em qualquer lugar do mundo. Tudo isso pedindo minha licença, uma vez que o Acervsys era de minha autoria. Colocou a minha disposição toda a área de Informática do Banco Santos.

Aqui quero fazer um parêntese.
Quando fiz o Acervsys também tive a minha disposição a área de informática do Banco Sudameris. Não era segredo pra ninguém que os Bancos foram pioneiros nessas tecnologias. Foi mais um privilégio no meu caminho profissional Meu parceiro Nivaldo Guerreiro, grande analista de sistemas do Sudameris foi meu sócio depois na comercialização do Acervsys.

Eu trabalhei o acervo com grandes curadores. Cristiana Barreto em arqueologia, Rubens Fernandes para fotografias, o geógrafo Paulo Misceli, Leandro Karnal para documentos históricos, Luis Donisete Grupioni em etnografia. Os museógrafos também de primeiríssimo time: Marcelo Dantas, Daniela Tomas, Pederneiras. Aprendi muito com eles. 
Juntos construímos um Sistema de catalogação contemplando campos de dados museológicos impecáveis. A busca espertíssima poderia ser feita de qualquer lugar.
A equipe de compradores participava de leilões nas melhores casas como Erasmus Haus, Christie’s e Sotheby’s.
O Instituto e o colecionador movimentaram o mercado de arte no mundo. Mapas raros, fotos vintage assinadas dos mais proeminentes fotógrafos contemporâneos e pioneiros como Malta, Militão, Ferrez, urnas funerárias romanas e marajoaras, fósseis, telas e escultores de mestres, Mais de 8 mil peças catalogadas. Desenvolvemos uma guarda técnica adquirindo matérias de conservação de ponta, muitos importados. Lembro-me que quando recebemos da China a coleção para exposição Guerreiros de Xi'An e os Tesouros da Cidade Proibida, muitas peças de arqueologia, principalmente aquelas em terracota, chegaram embaladas em seda. Criamos documentos como Condition Reports  e bancos de dados em alemão, francês e inglês.  
Hoje a coleção está dispersa sob guarda em várias instituições museológicas. A dispersão foi ordenada pela Promotoria de Justiça de São Paulo. Não houve controle curatorial.
Na época enviei solicitação de tombamento ao COMPRESP e ao CONDEPHAAT. Tenho notícias do processo pelo Compresp  http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/7da08_14_APT_Instituto_Cultural_Banco_Santos_acervo_museu.pdf
Existem peças que estavam no Memorial do Imigrante. Será que a Secretaria de Estado da Cultura comunicou a mudança de guarda ao COMPRESP?
Foi uma riquíssima experiência profissional. Foi também muito traumático assistir impotente ao desmantelamento. A Justiça promoveu a execução judicial visando restabelecer direitos patrimoniais que não discuto, Penso, no entanto que faltou a visão do direito público à cultura que preservasse a coleção como Patrimônio Histórico Cultural com sua unidade imprescindível. A unidade e o conjunto são dados museológico. É o perfil do colecionador que informa a coleção. Quem hoje controla essa dispersão e garante que tudo esteja sob guarda das instituições públicas?  

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