domingo, 17 de janeiro de 2016

O papel dos museus de migração além da preservação do patrimônio histórico, testemunho da História das migrações humanas

Museums, Migration and Interculturality

Museos, diálogo intercultural, nuevas y viejas migracione
Barcelona de 1 a 3 de outubro de 2008

O papel dos museus de migração além da preservação do patrimônio histórico, testemunho da História das migrações humanas

          Os museus de migração pertencem à categoria dos museus de História e de Sociedade. Trata-se de uma tentativa de reconhecimento do patrimônio da imigração como Patrimônio Nacional.
Esses museus guardam documentação fonte de pesquisa. Assim é o Memorial do migrante de São Paulo, instituição única no gênero no Brasil. O prédio, o acervo documental, as atribuições e atividades estão direta e exclusivamente direcionados ao assunto imigração. Em outros estados do Brasil existem exemplares de casas de imigrantes de uma determinada nacionalidade ou documentos históricos sobre imigração inseridos em arquivos gerais públicos municipais, estadual ou federal.
O Memorial do Imigrante de São Paulo existe há 10 anos, como também o Museu de imigração em Melbourne - Austrália, o Memorial em Ellis Island - New York e o Píer 21 Halifax no Canadá. 
       
No final do ano de 2005, uma nova administração se estabelece no Memorial do Imigrante de São Paulo.  Uma nova política museológica redireciona as atividades internas e sua atuação junto à sociedade. 
– Aproximamos o Memorial do Imigrante da área acadêmica, desenvolvendo projetos e trabalhos conjuntos, disponibilizando nosso acervo a pesquisadores acadêmicos.
– Inserimos o Memorial do Imigrante no cenário dos centros internacionais de estudo de migrações, estabelecendo contatos e troca de informações com instituições museológicas em outros países.
– Ampliamos nosso objeto de estudo para além do século XIX, época das migrações massivas, abrigando em nosso foco o fenômeno das migrações contemporâneas.
         Em sintonia com as novas tendências, tanto na área de estudos de migrações, quanto na área de museus, em outubro de 2006 lideramos a criação da Rede Brasileira de Centros de Estudo de Migrações. Esta rede está cadastrando esses centros para facilitar a identificação dos acervos de imigração no país, auxiliando no reconhecimento destas Instituições por parte de pesquisadores, estudantes e público em geral.
          Poucos dias depois participou em Roma da criação da Rede Internacional de Museus de Migração junto a UNESCO e IOM-International Organization for Migration - para facilitar a troca de informações e a cooperação internacional desenvolvendo projetos e atividades comuns.
          Essas novas relações provocaram a revisão da missão e da visão do museu, impondo a reformulação de suas praticas.
Se a abordagem acadêmica sobre imigração enfatizava à melhor compreensão das raízes do movimento migratório de massa transoceânico, suas implicações sócio-econômicas e as trajetórias familiares, nos últimos anos os estudiosos acadêmicos se voltaram para as questões da construção das novas identidades e dos graus de integração nos países receptores. Focado nesses fatores, os estudos se desenvolviam no marco dos respectivos países. Esse isolamento foi rompido na direção de um entendimento mais amplo sobre questões raciais, relações de trabalho, grau de urbanização e de industrialização em cada país, permitindo as comparações e a percepção de semelhanças e diferenças.
          Com a globalização e o surgimento da Comunidade Europeia, a questão das migrações se coloca no centro das preocupações políticas mundiais contemporâneas.
          Hoje 220 milhões de pessoas estão fora de seus territórios de origem. São 3% da população mundial, o equivalente a população do Brasil e Argentina juntos. O Fundo monetário Internacional aponta 815 milhões de emigrantes potenciais e 200 milhões de migrantes internos, aqueles que deixam suas cidades sem deixar o país. A isso devem ser somados 11,5 milhões de refugiados. 
          Estudos do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento, a respeito das remessas financeiras de cidadãos residentes no exterior nos últimos anos, indicam que em 2004, mais de US$ 45 bilhões foram enviados por emigrantes para seus países da América Latina e Caribe. Em 2006 o Brasil recebeu US$ 3,2 bilhões em remessas. É o 15º país no mundo com maior volume de remessas enviadas por seus emigrantes.
          Dados divulgados no Seminário “Globalização Internacional e Desenvolvimento”, realizado recentemente em Santander - Espanha aponta que, um aumento de 3% no número de imigrantes nos países desenvolvidos geraria US$ 300 bilhões adicionais para a economia, mais que os potenciais ganhos com a rodada Doha de liberalização comercial. Na ponta dos países emissores de migrantes há o fato de que 25% da economia de Honduras provêm de remessas de hondurenhos que vivem no exterior. Na ponta dos receptores, “há 12 milhões de irregulares trabalhando nos EUA, o que equivale a 9% da população empregada; se todos fossem expulsos, o PIB despencaria”, calcula Guillermo de La Dehesa[1].
Historicamente a imagem dos imigrantes é a de um cidadão de segunda classe ou um sobrevivente para a economia dos países tanto os de origem como os de destino. Essa imagem muitas vezes estereotipada conflita com os dados acima. Colocando de outra forma, as migrações favorecem as economias dos países emissores e receptores, porém o imigrante individualmente e a sociedade em geral, não tem consciência disso.
Como já salientou o UNHCR – The UN Refugee Agency, os meios de comunicações muitas vezes são responsáveis pela difusão de estereótipos negativos sobre migrantes e refugiados e contribuem para a difusão de sentimentos racistas e xenófobos junto à opinião pública [2].  Podemos incluir aqui a literatura e o cinema de ficção que trataram o assunto equivocadamente, desinformando a sociedade sobre o papel do migrante nos países de origem e nos de destino.
O desafio que se coloca para os museus de migração hoje é propiciar uma compreensão abrangente do fenômeno das migrações humanas. Como diz Gerard Noiriel, trata-se de “mudar o olhar da sociedade e do poder público sobre os imigrantes”. [3]
Os museus devem ser espaços de encontro e diálogo entre as organizações de imigrantes e a sociedade. O objeto de estudo dos museus de migrações os insere no contexto político da sociedade organizada e, como instituições culturais, focarão o fenômeno das migrações necessariamente no âmbito da cultura.  Esta perspectiva os permite um entendimento abrangente do fenômeno, bem como uma maior capacidade de ação junto aos segmentos organizados da sociedade.  Ainda citando Noiriel, “a cultura pode ser um meio de ação cívica”.
          Aos museus de migração impõe-se uma revisão dos discursos que historicamente representaram os imigrantes. Há que se confrontar discursos e estudos antropológicos, demográficos, psico-sociais, econômicos e políticos aos dos historiadores. Mais do que isso, neste museu o imigrante terá voz e se sentirá confortável para dar seu testemunho, falar de suas dificuldades, contar suas histórias enfim, se fará conhecer pela sociedade que, muitas vezes por desconhecimento, o discrimina.
As migrações contemporâneas ainda não estão contidas nos museus de migrações. A situação de “ilegalidade” desses indivíduos e a fragmentação das atribuições e controle de imigração em vários órgãos oficiais e não oficiais aumentam esta dificuldade.


          O Memorial do Imigrante de São Paulo é uma instituição museológica subordinada ao Governo do Estado de São Paulo.
          Ocupa o prédio da antiga Hospedaria dos Imigrantes inaugurada em 1887, tombada como Patrimônio Histórico, que recebeu aproximadamente 1.800.000 imigrantes de 70 nacionalidades e etnias (na sua maioria italiana, espanhola e portuguesa) e 1.200.000 trabalhadores nacionais provenientes de várias partes do Brasil, principalmente do nordeste[4].
A Hospedaria, subordinada à Secretaria de Agricultura do Governo do Estado de São Paulo, gerou um importante acervo documental oficial, resultado da política de mão de obra para o campo, estabelecida no final do século XIX até os anos 1950. Neste sentido o Memorial é também um importante Arquivo Histórico. Baseado nesses registros e na documentação oficial preservada em seus acervos, o Memorial do Imigrante vem prestando um serviço especial de utilidade pública de expedição de certidão de desembarque, documento que certifica a entrada do imigrante no Brasil e necessário para a obtenção de dupla cidadania, passaportes, retificação de nome, sucessões hereditárias, entre outros.
Ao assumir a sua função social como espaço de construção e expressão de valores culturais, o Memorial do Imigrante se propõe a abordar a temática da imigração a partir de um entendimento abrangente do fenômeno das migrações em que o conhecimento do passado alia-se ao entrelaçamento da diversidade de discursos, de identidades e de histórias individuais.
Nos dois séculos até 1700, haviam migrado para o Brasil cerca de 100 mil portugueses. No final do século XVII, o total de africanos que chegaram ao Brasil, desde o século XVI, era de 610 mil. Somente no século XVIII migraram cerca de 400 mil portugueses, de uma população metropolitana de 2 milhões de pessoas. Esta época foi também o auge da migração africana no Brasil. No século XVIII, cerca 20 mil africanos entraram por ano. Nesse século de crescimento da mineração entraram no Brasil 1,9 milhões africanos.
Os escravos não estão incluídos na Historia da Imigração como imigrantes africanos e os portugueses, pelo fato de terem sido os colonizadores, só aparecem nos estudos de imigração no século XX.

De 1895 até 1961, dos 2 873 320 imigrantes entrados em São Paulo, 1 024 076 eram italianos[5].
A cidade de São Paulo já foi considerada a maior cidade japonesa fora do Japão e maior cidade italiana fora da Itália.
O Brasil é um país que se desenvolveu economicamente devido aos imigrantes, principalmente aos europeus e japoneses. A par do sofrimento suportado por esses estrangeiros, que vieram massivamente para nosso país no século XIX e inicio do XX, aqui a integração se deu com resultados positivos.
          Hoje o movimento migratório no Brasil é diferente. Brasileiros emigram e o Brasil recebe latino - americanos e coreanos além dos refugiados. Esse movimento migratório contemporâneo ainda não é reconhecido pela sociedade brasileira.
          Não devemos, no entanto, perder o foco das atribuições dos museus. No assunto sobre o fenômeno das migrações, existem atribuições concernentes à área acadêmica, às organizações governamentais e não governamentais, aos consulados e embaixadas e às comunidades de imigrantes. 
          Esses museus devem estar preparados para subsidiar políticas públicas uma vez que a História neles contida dará a perspectivas dos aspectos positivos e negativos dessas políticas.
          Os museus de migrações devem estar bem informados sobre as leis e convenções internacionais existentes no país, relativas a migrações e disponibilizá-las para a sociedade em geral e principalmente para os imigrantes, conscientizando-o de seus deveres e direitos. Para isso deverá estar em contato estreito e permanente com instituições e ONGs nacionais e internacionais de apoio aos imigrantes. Da mesma forma manterá interlocução privilegiada com órgãos governamentais como Ministérios da Justiça e das Relações Exteriores e com as Polícias Federais. Como músicos e artistas pesquisam materiais históricos que os inspiram em suas novas criações artísticas, também políticos, parlamentares e advogados pesquisarão no museu subsídios para seus trabalhos jurídicos e legislativos.
           Para recuperar os movimentos, itinerários, dinâmicas de integração das comunidades, das relações passadas e presentes entre os países de origem e os países de acolhida, entre as primeiras gerações dos migrantes e os seus descendentes, os museus de migração romperão fronteiras nacionais trabalhando em cooperação com instituições da mesma natureza, internacionais e em outros países.
           
Para fazer frente aos desafios impostos a partir da reformulação da visão e a nova missão colocada para o Memorial, destacamos algumas ações desenvolvidas:

1) Criamos uma comissão de política de acervo que estabelecesse critérios de aquisição e promovesse uma reavaliação das coleções nesses10 anos de existência.
2) Estabelecemos metas para digitalizar e informatizar a imensa massa documental existente para dar acessibilidade a pesquisadores. Parte deste trabalho esta sendo viabilizado através de convênios e parcerias firmados com instituições da mesma natureza no Brasil em outros países, com a finalidade de criar banco de dados de interesse comum.
Neste ano de 2008 concluímos e abrimos ao publico 2 novos banco de dados: um sobre imigrantes japoneses entrados em São Paulo, projeto que fez parte das ações comemorativas do Centenário da imigração japonesa no Brasil e outro denominado War2 sobre a imigração na documentação do Memorial, nos períodos  entre guerras. 
3) lançamos em fevereiro de 2006 um novo site do Memorial, disponibilizando consulta de 1.900.000 nomes de imigrantes entrados em São Paulo, de 1888 a 1978. O serviço de Emissão de Certidões de Desembarque passou de 100 para 1.000 atendimentos/mês.
4) Ampliamos a biblioteca transformando-a em midiateca especializada o assunto.
5) A loja do museu conta com uma livraria especializada.
6) Estamos organizando um arquivo de referencia, mapeando os documentos oficiais produzidos por outros órgãos oficias sobre imigração, começando pelo Estado de São Paulo.  
7) Implantamos o Cine/vídeo MEMORIAL com projeção filmes documentários e ficção que abordem o tema migração.
8) Estamos colaborando e estimulando a preservação dos valores culturais das comunidades de imigrantes organizadas, assessorando na organização de seus próprios museus e abrigando em nosso espaço suas exposições, encontros e festividades.
9) Criamos a editora do Memorial e já temos uma considerável produção científica publicada.
10) Redirecionamos o setor de Memória oral no sentido de colher depoimentos de latino americanos, coreanos, refugiados que hoje emigram para o Brasil. Com os mesmos critérios estamos coletando fotos e objetos para o acervo.
11) Recebemos exposições de outros países e promovemos a itinerância de exposições do Memorial para o exterior.
12) Realizamos Seminários, encontros e palestras, transformando o Memorial de Imigrante em Centro de Estudos sobre migração humana.
13) temos participado ativamente de Seminários e encontros acadêmicos de Historia; de laboratórios de estudos de racismo, intolerância e xenofobia; de estudos rurais e urbanos, procurando divulgar nossos acervos para pesquisa acadêmica.
14) Realizamos anualmente a festa do Imigrante ocasião em que imigrantes e descendentes de segunda e terceiras gerações se encontram numa festa com comidas típicas, dança e musica.
15) Criamos a galeria de arte, espaço que permite abrigar exposições de arte de artistas imigrantes e descendentes.
16) Estamos iniciando uma parceria com a Sociedade Junguiana de São Paulo, para trabalharmos a imigração no processo de construção da identidade paulista a partir dos pressupostos metodológicos e dos fundamentos teóricos da Psicologia. Realizaremos o primeiro Simpósio em maio de 2009.
CONCLUSÃO
          Não há neutralidade na atividade museológica. Ações museológicas pressupõem escolhas e neste sentido os museus podem ser instrumentos de conscientização ou instrumentos de alienação. Aos museus compete colecionar, salvaguardar e divulgar as informações históricas contidas em seu acervo histórico-cultural. Fazê-las conhecidas pela sociedade é fundamental para reduzir as dificuldades das relações entre os povos.
 A história da humanidade é a história das migrações humanas. O fenômeno das migrações continua sendo uma história da sobrevivência no planeta e da dinâmica da construção das identidades. A arqueologia já comprovou que o homem tem sua origem mais remota no continente africano e de lá saiu para ocupar o mundo. A criação política dos estados nacionais não poderá camuflar a condição da origem migrante de todos e de cada um de nós. O museu é um espaço político e nele o passado, como protagonista do futuro, atua como força transformadora. Trabalharemos juntos rompendo as fronteiras artificiais do isolamento.

Resumo
Os museus de migração pertencem à categoria dos museus de História e de Sociedade. É uma tentativa de reconhecimento do patrimônio da imigração como Patrimônio Nacional.
No final do ano de 2005, uma nova administração estabelece no Memorial do Imigrante de São Paulo uma nova política museológica.  Uma profunda revisão da missão e da visão do museu, provocou a reformulação de suas praticas, redirecionando as atividades internas e sua atuação junto à sociedade .
O Memorial tem a guarda de um importante acervo documental oficial, resultado da política de mão de obra para o campo, estabelecida no final do século XIX até os anos 1950 pelo Governo do Estado de São Paulo. Instituição única no gênero no Brasil é ao mesmo tempo museu e um importante Arquivo Histórico.
Aos museus de migração impõe-se uma revisão dos discursos que historicamente representaram os imigrantes. Há que se confrontar discursos e estudos antropológicos, demográficos, psicossociais, econômicos e políticos aos dos historiadores.
As migrações contemporâneas ainda não estão contidas nos museus de migrações. A situação de “ilegalidade” desses indivíduos e a fragmentação das atribuições e controle de imigração em vários órgãos oficiais e não oficiais aumentam esta dificuldade.
Ao assumir a sua função social como espaço de construção e expressão de valores culturais, o Memorial do Imigrante se propõe a abordar a temática da imigração a partir de um entendimento abrangente do fenômeno das migrações em que o conhecimento do passado alia-se ao entrelaçamento da diversidade de discursos, de identidades e de histórias individuais.
Missão
Adquirir, preservar, pesquisar, documentar e divulgar a história da imigração e a memória dos imigrantes no Estado de São Paulo.
Visão
          Constituir-se como um Centro de Excelência de Estudos dos Movimentos Migratórios entre países de origem e destino.
          Como Museu de Migração, tornar-se cada vez mais referência Nacional e Internacional através da implementação de Políticas Museológicas que valorizem a riqueza da Diversidade Cultural.   


Dados de Pesquisa


(Por uma militância em rede, página 4. Articulação Latino americana: Cultura e Política Le Monde Diplomatique boliviano Carlos Hugo Molina)
1. Contribuir para a reinvenção da democracia e a afirmação de culturas cidadãs de responsabilidades e direitos
2. Promover articulações inovadoras dos movimentos culturais e sociais
3. Construir uma América latina feliz, plural equitativa e ambiental e politicamente sustentável.

Cultura não é só a dimensão da expressão artística. Implica mudança de valores e de atitudes.
Evoluir para a democracia participativa, transcendendo a e superando a democracia representativa. A clássica democracia representativa foi gerada no ventre do capitalismo, sob os auspícios do mercado. A ela há que se opor a democracia participativa. Não pode haver economia dirigida por força de mercado, mas sim uma economia participativa.
Excepcionalidade cultural – que consiste em arrancar das garras do mercado e do neoliberalismo as artes e todas as manifestações culturais. “prefiro um teatro protegido pelo Estado que deixá-lo as mãos do mercado puro” Zamora seminário Articulação latino-americana: Cultura e política pág. 5

Augusto Boal –“teatro político é um pleonasmo. Toda estética comporta uma ética e toda ética, uma política.”

Mariza Veloso professora da UNB e do Instituto Rio Branco.
Nos anos 1980 e 1990 processos de redemocratização impulsionou revitalização da sociedade permitindo redefinição da identidade sul americana revendo posições de subdesenvolvida, subordinada e subalternizada em relação às potências internacionais.
A integração não pode ser confundida com unificação, mas sim com disseminação de diferentes tradições e práticas culturais que possam permitir novas conexões entre diferentes grupos sociais.
Alves de Souza a dinâmica cultural atual é capaz de propor mecanismos e estratégias que suscitem o sentido de pertencimento e a capacidade de viabilizar direitos.
Estabelecer conexões e direitos parece ser uma tarefa urgente e necessária, especialmente quando se está tratando de América do Sul. A cultura não deve ser pensada apenas no âmbito das políticas estatais ou das propostas de acordos multilaterais, nem como mero produto, evento ou espetáculo, mas sim como processo permanente de criação de uma urdidura simbólica que permita o múltiplo entrecruzamento de experiências e tradições. Cabe lembrar que uma forma contundente de violência simbólica é a própria invisibilidade de determinados grupos na sociedade contemporânea, como tem sido o caso dos indígenas, negros, mulheres e de grupos étnicos e de migrantes em países sul americanos. Precisamos deixar de pensar as práticas culturais e o desenvolvimento sul americano apenas como emergentes. É preciso mudar a postura e pensar a América do Sul como espaço insurgente para que de fato irrompa a construção de novas subjetivas coletivas. As práticas culturais mais do que outras instâncias ensejam e contribuem para a organização dos interesses coletivos. Políticas culturais devem ser interpretadas como vetores visando à construção de valores coletivos.

Artistas imigrantes

Alfredo Volpi; Mario Zanini; Francisco Rebolo; Fulvio Pennacchi; Aldo Bonadei; Anita Malfatti; Manabu Mabe; Teisuke Kumasaka; Tomie Otake; Galileo Emendabili; Ettore Ximenez; Antonio Ximenez; Nicolas Vlavianos (1929); Luigi Brizzolara; Amadeu Zani (1887); Lina Bo Bardi; Gregori Warchavchik, Emiliano Di Cavalcanti; Oscar Niemeyer; Elise Visconti; Vitor Brecheret; Domiziano Rossi; Lasar Segall; Franz Weissman 1911

Para Bárbara Freitag Rouanet o fechamento das fronteiras dos países ricos se dá por duas grandes razões: o terrorismo e o desemprego estrutural.
Políticas restritivas à imigração adotadas por países desenvolvidos acabam por aumentar o fluxo de imigrantes para os chamados países em desenvolvimento como o Brasil. Uma boa política de imigração pode representar uma das maneiras de restabelecer o equilíbrio da população.

SEADE – O perfil dos migrantes que se mudam para a Grande São Paulo é diferente de 20 anos atrás. A participação dos nordestinos caiu de 59,4% para 49,1%, o que fez com que a proporção de migrantes do interior de São Paulo, de outras regiões do país e até do exterior aumentasse. No final dos anos 80 a Grande São Paulo recebeu perto de 12 mil migrantes vindos do exterior. Em apenas 2 anos, no período de 2006/2007, esse número mais que dobrou. A cidade ganhou aproximadamente 26 mil estrangeiros.
Os países da América Latina são, ao mesmo tempo, emissores de fluxo migratório para os países desenvolvidos da Europa, América do Norte e Ásia, e também receptores dos fluxos internos do continente sul-americano. Neste sentido, é possível constatar que os países considerados em desenvolvimento, como o Brasil, tem sido uma alternativa para os imigrantes que antes se dirigiam em grande escala para países da América do Norte e Europa.
O Brasil é bastante exigente e seletivo com relação ao imigrante. O reconhecimento de diploma envolve enorme burocracia.
São Paulo é um grande laboratório da sociedade urbana globalizada do futuro.

Os séculos 16 e 17 foram marcados por invasões do nosso território. Os franceses entraram pelo litoral do Rio de Janeiro e do Maranhão. Os ingleses realizaram incursões pelas regiões norte e nordeste. No estado de Pernambuco, os holandeses permaneceram por 24 anos impulsionando a urbanização da cidade de Recife. A proclamação da República o governo imperial incentivou a vinda de imigrantes para povoar o sul dos pais (caráter povoador). Os alemães se fixaram no sul, italianos cafezais em SP. Os sírios e libaneses estão SP desde 1830 e trabalhavam como mascates, mais japoneses, espanhóis e portugueses.
Início do Séc. XX desenvolvimento industrial, expansão da lavoura, comércio internacional do café, instituições financeiras facilitavam o crédito para empreendimentos fabris, a malha ferroviária possibilitava eficiente distribuição e energia elétrica abundante. Italianos dedicaram-se a indústria alimentícia e tecelagem. Os alemães, cerveja e papel; armênios, lanifício e calçados; judeus e posteriormente coreanos, confecção de roupas.
Entre guerras o fluxo volta a crescer. Na dec. de 60 vinda de profissionais com instrução.
São Paulo
Coreanos hoje 45 mil.
Bolivianos (Praça Kantuta) hoje 100 mil (dados consulado 50 a 70 mil)
Indústria do vestuário ao longo do séc. XX até década 1970, coreanos clandestinos na década. 60, nordestinos que não se adaptou (amparados pela lei), na década 80 bolivianos.
1998 - anistia pelo governo brasileiro para clandestinos estrangeiros.
Africanos hoje, bem diferente. Começa com cana de açúcar. Chegam a partir de 1530 até final séc. XIX. Chegaram entre 1550 a 1850 8 milhões. A partir da década de 70 países africanos conseguem independência. Motivos para vinda para SP: estudantes de países da CPLP Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Para melhores condições de ensino; fuga de conflitos e guerras tribais; busca de melhores condições de vida.
Primeiros anos da década de 90 cresce entrada de angolanos e moçambicanos. ACNUR – 75% dos refugiados no Brasil são africanos na década de 90. Ainda há pouca pesquisa e estudos dessa imigração. Alain Pascal Kaly sociólogo senegalês trata das questões: processo d desenvolvimento dos estudantes africanos por meio d inserção nos cursos de graduação e pós graduação das universidades de 5 estados do Brasil; abordagem sobre racismo a partir de estereótipos desenvolvidos em relação à África e aos processos de adaptação dos mesmos ao ensino brasileiro.
A crise econômica pode gerar um fluxo de mais de 10 milhões de pessoas elo mundo, voltando para suas casas, alerta a ONU. Associações de imigrantes na Europa denunciam planos de governos de se utilizar da crise para justificar expulsões em massa. 
Dados do Ministério das Relações Exteriores do México mostram q só seu consulado em Denver registrou esse ano aumento de 25% nos pedidos de incentivo para volta definitiva ao México. 100 mil dos 1 milhão de poloneses q foram trabalhar no reino unido desde 2004 já voltaram. 200 mil poderão voltar em 2009. Na Espanha há plano “retorno voluntário” de governo q dá 9 mil euros a estrangeiros q queiram voltar. Associações acusam governo de usar crise para expulsão em massa. Neste plano o estrangeiro não poderá voltar a Espanha por 3 anos. Hoje 11% da população da Espanha é imigrante. São 5 milhões

Comprometida com a transformação social, confirmará sua missão promotora da etnodiversidade, fomentadora da epistemodiversidade e formadora de cidadãos críticos e engajados. A etnodiversidade corresponde ao interculturalismo que enriquece (e conflita) o mundo globalizado. Boaventura Santos


[1] Presidente do Centro de Pesquisa de Política Econômica, com sede em Londres e autor de “Comprender la Immigración” lançado durante o Seminário.
[2] ACNUR- Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Políticas Públicas para as Migrações Internacionais – Migrantes e Refugiados, Brasília - Brasil, maio de 2006, p. 88
[3] L’historien dans la Cite: comment concilier histoire et mémoire de L’immigration ? Gerard Noiriel Museum Inernational nº 233,234
[4] Paiva, Odair da Cruz. Breve História da Hospedaria de Imigrantes e da Imigração para São Paulo. São Paulo: Memorial do Imigrante/Museu da Imigração, 2000 São Paulo – Brasil, V.1, 56 p (Série Resumos 7)
[5] Boletim do Departamento de Imigração e Colonização do Estado de São Paulo de 1961 – SP 1962 pg 44

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