quarta-feira, 20 de março de 2013

Museu do Theatro Municipal de São Paulo



Trabalhar no Teatro Municipal de São Paulo – Um mergulho na magia

Fui a primeira museóloga a ser contratada pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. Mario Covas era Prefeito em 1983. Fui chamada pelo então Secretário Municipal de Cultura Fábio Magalhães para criar o Museu do Teatro Municipal.
Conheci a história do teatro e “pessoas ilustres” que por lá passaram. Conheci e trabalhei com pessoas muito especiais. Inesquecíveis. Magia amarrando os invisíveis fios do passado com o presente
Foi uma época, logo após o período da ditadura militar, também muito especial. Sentia-se um governo de pessoas verdadeiramente comprometidas com as mudanças para a democracia. Havia muita expectativa e engajamento. Queriam realizar bons trabalhos. O Diretor do Departamento de Teatros era o Fernando Peixoto que sucedeu Max Altmann.  Pessoas que dispensam maiores apresentações. Para a organização do museu criamos uma equipe de pessoas que os trabalhadores de museu conhecem bem. São museólogos originais que guardam e cuidam de objetos testemunhos da História. São escolhas tão subjetivas quando universais. Todo museu nasce de coleções. Funcionários antigos do teatro me mostraram cada canto do majestoso teatro. Lugares que uns poucos “escolhidos” conheciam. Bastidores dos bastidores. Camarins, o fantástico guarda roupa e as costureiras. Era enorme. Apenas uma ópera como Boris Gudovov possuía 1.500 peças entre vestimentas e adereços. As companhias italianas que aqui se apresentava deixavam por contrato o guarda roupa do espetáculo. O arquivo de partituras era precioso. Fornecia cópias para o mundo todo. Havia uma recepcionista querida Isabel que guardou todos os programas. Desde o primeiro da inauguração do teatro. Levantamos os documentos legislativos de criação do Teatro na Câmara Municipal e as plantas arquitetônicas do Ramos de Azevedo. Os desenhos dos escultores do Liceu de Artes e Ofícios e dos vitrais de Conrado Sorgenicht.  Maria Rosa era chefe das recepcionistas. Acostumada a receber autoridades no teatro, elegante, tinha classe como se dizia na época.  O Natalino, caseiro e sindico me mostrou os labirintos. Não eram como hoje abertos ao público. Eram os alicerces de sustentação do edifício. Pouco iluminado e fácil de gente se perder. Levei meus filhos ainda pequenos. Os gatos da Praça Carlos Gomes, que muitas vezes apareciam no meio dos espetáculos no palco, entravam por ali. Conheci Gianni Ratto. Estava sempre lá.
Deixei para mencionar no fim uma figura impar. O grande cenotécnico Carlos Giachieri. Ele me mostrou a cúpula onde se guardavam os adereços cenográficos. Mostrou-me os guindastes do palco de engenharia naval. Colocou música no palco, me vesti de Sherazade e ele abriu as cortinas. Mostrou-me seus livros de museus de teatros como o Scala de Milão, o Teatro Negro de Praga e o Comédie Française e Opera de Paris. Eu chegava de manhã para trabalhar e passava por um ensaio de balé. Ia embora com o som de um ensaio de orquestra. Ele era a alma do teatro. Foi a primeira exposição feita no Brasil por um cenógrafo com tudo que tinha direito. Iluminação e sonoplastia. Foi meu melhor espetáculo.

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