Trabalhar no Teatro Municipal de São Paulo – Um mergulho na magia
Fui a primeira museóloga a ser contratada pela Secretaria
Municipal de Cultura de São Paulo. Mario Covas era Prefeito em 1983. Fui
chamada pelo então Secretário Municipal de Cultura Fábio Magalhães para criar o
Museu do Teatro Municipal.
Conheci a história do teatro e “pessoas ilustres” que por lá
passaram. Conheci e trabalhei com pessoas muito especiais. Inesquecíveis. Magia
amarrando os invisíveis fios do passado com o presente
Foi uma época, logo após o período da ditadura militar, também
muito especial. Sentia-se um governo de pessoas verdadeiramente comprometidas
com as mudanças para a democracia. Havia muita expectativa e engajamento. Queriam
realizar bons trabalhos. O Diretor do Departamento de Teatros era o Fernando
Peixoto que sucedeu Max Altmann. Pessoas
que dispensam maiores apresentações. Para a organização do museu criamos uma
equipe de pessoas que os trabalhadores de museu conhecem bem. São museólogos
originais que guardam e cuidam de objetos testemunhos da História. São escolhas
tão subjetivas quando universais. Todo museu nasce de coleções. Funcionários
antigos do teatro me mostraram cada canto do majestoso teatro. Lugares que uns
poucos “escolhidos” conheciam. Bastidores dos bastidores. Camarins, o fantástico
guarda roupa e as costureiras. Era enorme. Apenas uma ópera como Boris Gudovov possuía
1.500 peças entre vestimentas e adereços. As companhias italianas que aqui se
apresentava deixavam por contrato o guarda roupa do espetáculo. O arquivo de
partituras era precioso. Fornecia cópias para o mundo todo. Havia uma
recepcionista querida Isabel que guardou todos os programas. Desde o primeiro da inauguração
do teatro. Levantamos os documentos legislativos de criação do Teatro na Câmara
Municipal e as plantas arquitetônicas do Ramos de Azevedo. Os desenhos dos
escultores do Liceu de Artes e Ofícios e dos vitrais de Conrado Sorgenicht. Maria Rosa era
chefe das recepcionistas. Acostumada a receber autoridades no teatro, elegante,
tinha classe como se dizia na época. O
Natalino, caseiro e sindico me mostrou os labirintos. Não eram como hoje
abertos ao público. Eram os alicerces de sustentação do edifício. Pouco
iluminado e fácil de gente se perder. Levei meus filhos ainda pequenos. Os
gatos da Praça Carlos Gomes, que muitas vezes apareciam no meio dos espetáculos
no palco, entravam por ali. Conheci Gianni Ratto. Estava sempre lá.
Deixei para mencionar no fim uma figura impar. O grande
cenotécnico Carlos Giachieri. Ele me mostrou a cúpula onde se guardavam os
adereços cenográficos. Mostrou-me os guindastes do palco de engenharia naval.
Colocou música no palco, me vesti de Sherazade e ele abriu as cortinas. Mostrou-me
seus livros de museus de teatros como o Scala de Milão, o Teatro Negro de Praga
e o Comédie Française e Opera de Paris. Eu chegava de manhã para trabalhar e
passava por um ensaio de balé. Ia embora com o som de um ensaio de orquestra. Ele
era a alma do teatro. Foi a primeira exposição feita no Brasil por um cenógrafo
com tudo que tinha direito. Iluminação e sonoplastia. Foi meu melhor espetáculo.
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