sexta-feira, 15 de março de 2013

Artigo 18 DE MAIO - DIA INTERNACIONAL DE MUSEUS-2009


                   18 DE MAIO - DIA INTERNACIONAL DE MUSEUS


            O universo dos museus no Brasil tem muito a comemorar neste 18 de maio. Nos últimos anos, políticas públicas e iniciativas privadas tem dado atenção nunca vista às essas instituições museológicas. Os museus tornam-se cada vez mais populares e identificados como espaços privilegiados de inclusão cultural, fóruns de diálogo e interação.
            A cidade de São Paulo, historicamente vista como cidade de negócios está hoje consagrada como importante destino de turismo cultural.
           
            Com o tempo, outros assuntos, outras tipologias de museus começam a competir com os museus de arte. Os museus de história, de ciência e até os museus sem acervo físico,  como o Museu da Língua Portuguesa, Museu do Futebol e o Catavento conquistam novos visitantes.
  
        
            No âmbito da musealização da história das migrações humanas, uma ação de extrema importância está acontecendo refletindo a potencialidade dessas importantes instituições culturais.
            Em outubro de 2006 em Roma, foi criada a Rede Internacional de Museus de Migração, promovida pela UNESCO e OIM- International Organization for Migration.
            O fenômeno das migrações humanas tem sido um assunto candente na atualidade. Pauta em todos os meios de comunicação no mundo, está na agenda de todos os governos e nos discursos de campanha de candidatos á presidência de paises desenvolvidos. É um assunto que divide a sociedade.
Os museus de migração na Europa são muito novos ou se preparam para serem inaugurados. O Memorial do Imigrante de São Paulo existe há 10 anos, como também o Museu de imigração em Melbourne - Austrália, o Memorial em Ellis Island - New York e o Píer 21 Halifax no Canadá, cidades formadas por Imigrantes.
Os museus de migração pertencem à categoria dos museus de História e de Sociedade. São uma tentativa de reconhecimento do patrimônio da imigração como Patrimônio Nacional.
            A organização de Memoriais e Museus de migração na Europa acontece em meio a explosões de manifestações de grupos de imigrantes nas ruas de Paris e Londres, denunciando preconceitos, xenofobia e racismo. O 1º de maio em 2007 foi comemorado no mundo, principalmente nos Estados Unidos, com imigrantes nas ruas, reinvidicando leis e políticas públicas mais justas.
Os museus são instrumentos privilegiados para o esclarecimento e para informar a sociedade sobre o papel enriquecedor do imigrante, nas sociedades de destino.        Também os museus de migração evoluíram. Se a abordagem acadêmica sobre imigração enfatizava à melhor compreensão das raízes do movimento migratório de massa transoceânico, suas implicações sócio-econômicas e as trajetórias familiares, nos últimos anos os estudiosos acadêmicos se voltaram para as questões da construção das novas identidades e dos graus de integração nos paises receptores. Focado nesses fatores, os estudos se desenvolviam no marco dos respectivos paises. Esse isolamento foi rompido na direção de um entendimento mais amplo sobre questões raciais, relações de trabalho, grau de urbanização e de industrialização em cada país, permitindo as comparações e a percepção de semelhanças e diferenças.

            Com a globalização e o surgimento da Comunidade Européia, a questão das migrações se coloca no centro das preocupações políticas mundiais contemporâneas.
            Hoje 220 milhões de pessoas estão fora de seus territórios de origem. São 3% da população mundial, o equivalente a população do Brasil e Argentina juntos. O Fundo monetário Internacional aponta 815 milhões de emigrantes potenciais e 200 milhões de migrantes internos, aqueles que deixam suas cidades sem deixar o país. A isso devem ser somados 11,5 milhões de refugiados.
 Estudos do BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento, a respeito das remessas financeiras de cidadãos residentes no exterior nos últimos anos, indicam que em 2004, mais de US$ 45 bilhões foram enviados por emigrantes para seus países da América Latina e Caribe. Em 2006 o Brasil recebeu US$ 3,2 bilhões em remessas. É o 15º país no mundo com maior volume de remessas enviadas por seus emigrantes.
            Dados divulgados no Seminário “Globalização Internacional e Desenvolvimento”, realizado recentemente em Santander - Espanha aponta que, um aumento de 3% no número de imigrantes nos paises desenvolvidos geraria US$ 300 bilhões adicionais para a economia, mais que os potenciais ganhos com a rodada Doha de liberalização comercial. Na ponta dos paises emissores de migrantes há o fato de que 25% da economia de Honduras provêm de remessas de hondurenhos que vivem no exterior. Na ponta dos receptores, “há 12 milhões de irregulares trabalhando nos EUA, o que equivale a 9% da população empregada; se todos fossem expulsos, o PIB despencaria”, calcula Guillermo de La Dehesa[1].
Historicamente a imagem dos imigrantes é a de um cidadão de segunda classe ou um sobrevivente para a economia dos paises tanto os de origem como os de destino.
Essa imagem muitas vezes estereotipada conflita com os dados acima. Colocando de outra forma, as migrações favorecem as economias dos paises emissores e receptores, porém o imigrante individualmente e a sociedade em geral, não tem consciência disso.
Como já salientou o UNHCR – The UN Refugee Agency, os meios de comunicações muitas vezes são responsáveis pela difusão de estereótipos negativos sobre migrantes e refugiados e contribuem para a difusão de sentimentos racistas e xenófobos junto à opinião pública[2].  Podemos incluir aqui a literatura e o cinema de ficção que trataram o assunto equivocadamente, desinformando a sociedade sobre o papel do migrante nos países de origem e nos de destino.
O desafio que se coloca para os museus de migração hoje é propiciar uma compreensão abrangente do fenômeno das migrações humanas. Como diz Gerard Noiriel, trata-se de “mudar o olhar da sociedade e do poder público sobre os imigrantes”. [3]
Os museus devem ser espaços de encontro e diálogo entre as organizações de imigrantes e a sociedade. O objeto de estudo dos museus de migrações os insere no contexto político da sociedade organizada e, como instituições culturais, focarão o fenômeno das migrações necessariamente no âmbito da cultura.  Esta perspectiva os permite um entendimento abrangente do fenômeno, bem como uma maior capacidade de ação junto aos segmentos organizados da sociedade.  Ainda citando Noiriel, “a cultura pode ser um meio de ação cívica”.
            Aos museus de migração impõe-se uma revisão dos discursos que historicamente representaram os imigrantes. Há que se confrontar discursos e estudos antropológicos, demográficos, psico-sociais, econômicos e políticos aos dos historiadores. Mais do que isso, neste museu o imigrante terá voz e se sentirá confortável para dar seu testemunho, falar de suas dificuldades, contar suas histórias enfim, se fará conhecer pela sociedade que, muitas vezes por desconhecimento, o discrimina.
As migrações contemporâneas ainda não estão contidas nos museus de migrações. A situação de “ilegalidade” desses indivíduos e a fragmentação das atribuições e controle de imigração em vários órgãos oficiais e não oficiais aumentam esta dificuldade.

            O Brasil é exemplo de país que se desenvolveu economicamente  devido aos imigrantes, principalmente europeus e japoneses. A par do sofrimento suportado por esses estrangeiros, que vieram massivamente para nosso país no século XIX e inicio do XX, aqui a integração se deu com resultados positivos.
            Hoje o movimento migratório no Brasil é um pouco diferente. Brasileiros emigram e o Brasil recebe latino americanos e coreanos.
            Está contido nos museus de estudo de migrações como Ellis Island nos Estados Unidos e no Memorial do Imigrante de São Paulo a grande contribuição dos imigrantes nas sociedades de destino. Está contido também os conflitos individuais e sociais que este fenômeno causa.
            Cabe aos museus de migração estabelecer pontes entre os imigrantes e a sociedade.  Os museus são instrumentos ativos de esclarecimento e informação, eficientes no combate aos preconceitos e estereótipos. Eles devem ser fóruns permanentes entre os órgão governamentais, ONGs, sociedade, acadêmicos e os próprios imigrantes. Estudando o passado podem subsidiar políticas públicas no presente que favoreçam o reconhecimento das sociedades modernas.
            A história da humanidade é a história das migrações humanas. O fenômeno das migrações continua sendo uma história da sobrevivência no planeta e da dinâmica da construção das identidades. A arqueologia já comprovou que o homem tem sua origem mais remota no continente africano e de lá saiu para ocupar o mundo. Negro, alcança as terras altas e se modifica genèticamente. Fica loiro, os olhos se azulam ou se esverdeiam ou ficam mais puxados.  
            Conhecer essas informações é fundamental para  reduzir as dificuldades das relações entre os povos.



[1] Presidente do Centro de Pesquisa de Política Econômica, com sede em Londres e autor de “Comprender la Immigración” lançado durante o Seminário.
[2] ACNUR- Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Políticas Públicas para as Migrações Internacionais – Migrantes e Refugiados, Brasília - Brasil, maio de 2006, p. 88
[3]  L’historien dans la Cite: comment concilier histoire et mémoire de L’immigration ?  Gerard Noiriel Museum Inernational nº 233,234http://www.revistamuseu.com.br/18demaio/artigos.asp?id=19715

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